Bodocongó: o bairro que virou o berço da ciência, educação e das universidades em Campina Grande
Reitoria da UEPB, em Campina Grande Divulgação/UEPB O bairro de Bodocongó, em Campina Grande, guarda em suas ruas, e às margens do açude que lhe dá nome, ...

Reitoria da UEPB, em Campina Grande Divulgação/UEPB O bairro de Bodocongó, em Campina Grande, guarda em suas ruas, e às margens do açude que lhe dá nome, uma parte essencial da história da cidade. É ali que se concentram as principais instituições de ensino e pesquisa da região, como a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), o Parque Tecnológico, além de diversas escolas técnicas. Hoje, o bairro é reconhecido como um polo de ciência e inovação. Mas essa vocação nasceu há quase um século, quando Bodocongó recebeu a primeira instituição científica de Campina Grande, muito antes da chegada das universidades. O açude de Bodocongó, que fez nascer a ciência em Campina Grande Açude de Bodocongó em 1930 Reprodução / História de Campina Grande de Aldeia a Metropólis / Ida Steinmuller Em 1934, o açude que dá nome ao bairro foi cenário de uma das descobertas mais importantes da biologia brasileira: a primeira reprodução artificial de peixes no país, resultado do trabalho do zoólogo Rodolpho von Ihering e da Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste (CTPN). Criada como resposta às secas, a Comissão tinha o objetivo de aumentar a oferta de alimentos na região por meio da criação de peixes em açudes do Nordeste. Em Campina Grande, o grupo escolheu o açude de Bodocongó para instalar sua base. LEIA TAMBÉM: Campina Grande é terceira cidade mais inovadora do Brasil, aponta ICE 2023 Segundo a pesquisadora Ida Steinmüller, que estudou o período, a escolha do local teve relação direta com o contexto urbano e com as condições do açude: “Pudemos concluir que a vinda da Comissão teve incentivos de uma rede de paraibanos, além de a cidade se encontrar envolvida em processo de crescimento e urbanização, contribuindo para que a Comissão pudesse desenvolver seus estudos e instalar a sede na cidade. Mas, tendo como principal ponto a proximidade com o açude Bodocongó, por suas condições, para obtenção dos resultados da pesquisa do Dr. Rodolpho e sua equipe”, explica. Foi nesse ambiente que ocorreu a experiência que mudaria a história da piscicultura: a primeira reprodução artificial em aquário de curimatãs adultas, feita por meio da hipofisação, técnica que revolucionou a reprodução em cativeiro e passou a ser utilizada em todo o país. “A passagem da Comissão por Campina Grande foi muito produtiva, deixando uma contribuição de valor nacional e internacional que é reconhecida e utilizada até hoje”, afirma Ida. E não foi só isso. Em 1934, o bairro também foi palco do nascimento da Limnologia brasileira — área da Biologia que estuda as águas interiores —, com os estudos do norte-americano Stillman Wright nas águas do açude Bodocongó. O pequeno açude, que na época ficava a cerca de seis quilômetros do centro da cidade, se tornou, assim, o primeiro laboratório natural de Campina Grande e o ponto de partida de uma história científica que continua se desenrolando quase um século depois. De bairro industrial a polo universitário Décadas mais tarde, o cenário do bairro começaria a mudar. Nos anos 1950, Bodocongó abrigava indústrias e simbolizava o avanço industrial de Campina Grande, impulsionado por investimentos da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Mas, a partir dos anos 1960, o som das fábricas começou a dividir espaço com o burburinho das salas de aula. De acordo com a historiadora Keila Queiroz e Silva, professora da UFCG, o marco dessa virada foi 1964, ano em que o campus da então Universidade Federal da Paraíba passou a funcionar no bairro. “O bairro de Bodocongó representava a paisagem industrial da cidade. Muitas indústrias foram construídas em torno do açude. A transformação do bairro de Bodocongó em um complexo educacional de instituições de ensino superior foi gradativa”, explica Keila. A primeira universidade pública de Campina Grande nasceu como Escola Politécnica, em 1952, idealizada por professores como Lynaldo Cavalcanti de Oliveira, um dos responsáveis por estruturar os primeiros cursos de Engenharia. Pouco depois, em 1955, foi criada a Faculdade de Ciências Econômicas, consolidando a identidade do ensino superior na cidade. UEPB, em méados da década de 1970 Reprodução / UEPB Keila conta que, nos anos 1970, o movimento se intensificou com a criação da Fundação Universitária de Ensino (Furne), idealizada por Edvaldo de Souza do Ó. A instituição começou oferecendo cursos de licenciatura e se expandiu para as áreas da saúde e tecnologia. Em 1987, foi estadualizada, dando origem à atual Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Campus I da UEPB na década de 1970 Reprodução / UEPB “Os efeitos do crescimento das duas universidades públicas no bairro são visíveis. [...] A expansão do setor da construção civil no bairro de Bodocongó é sem dúvida provocada pelo polo educacional que foi criado no seu entorno. A própria verticalização do bairro é consequência das demandas das duas universidades por habitações para estudantes de outros estados do Brasil e até de outros países", disse a historiadora. O período de expansão do ensino superior foi determinante para o desmembramento da Universidade Federal da Paraíba e a criação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em 2002. A partir daí, o bairro começou a ganhar novos contornos. Universidade Federal de Campina Grande em 2002 Reprodução / UFCG Com o passar do tempo, Bodocongó passou a abrigar também o Parque Tecnológico, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Hoje, quase um século depois da experiência pioneira de Rodolpho von Ihering, Bodocongó se consolida como o coração científico e educacional de Campina Grande, um bairro onde as águas que impulsionaram a ciência continuam refletindo o futuro da inovação. Equipe do projeto 'Lá Vem o Enem" visita escola pública em Campina Grande *Sob supervisão de Diogo Almeida. Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba